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Influenciadores

Dicas, partilha de experiências e best practices sobre blogging e influenciadores digitais

30.Jun.19

Entrevista João Gomes de Almeida, Managing Partner da Buzziness e Co-founder da Lisbon Awards Group

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Natural de São João da Madeira, João Gomes de Almeida começou por estudar Direito antes de entrar no mundo da comunicação e da publicidade. Tem um percurso invejável, passando pelas melhores agências em Portugal e apoiando a criação de um dos "um dos maiores players do mundo na área dos festivais de publicidade" - o Lisbon Awards Group. 

Nesta entrevista João devendou um pouco mais sobre o seu percurso desde a mudança para Lisboa, até ao seu livro "Devolvam-nos o Caviar", deixando ainda os seus conselhos para futuros profissionais da área!

 

Conte-nos mais sobre o João e o seu percurso.

Antes de mais gostava de referir que fui parar à publicidade, à comunicação, às colunas dos jornais e aos eventos que organizo sempre por mero acaso. Sou natural de São João da Madeira, a cidade mais pequena do país e foi lá que vivi até vir para Lisboa frequentar o curso de Direito - na altura não queria ser advogado, como a maioria dos meus colegas, mas sim político. Com quase 15 anos de distância, consigo perceber que foi um choque para mim. Não conhecia Lisboa e os hábitos da capital, deslumbrei-me rapidamente com tudo, principalmente com a política e com igual rapidez desiludi-me com o curso de Direito. Talvez tenha sido esse o início da minha história na comunicação.
Tinha 20 anos e havia muita coisa a acontecer. Uma nova geração de cronistas que desabrochavam dos blogues, projectos editoriais interessantíssimos como a revista Atlântico, programas de rádio impulsionados pela blogosfera como o que o Pedro Rolo Duarte tinha no Rádio Clube Português, acções de guerrilha política como as desencadeadas pelo Rodrigo Moita de Deus e companhia no 31 da armada e por aí em diante. Eram tempos incríveis, principalmente para um miúdo daquela idade. Tinha saído da Juventude Socialista e assumido-me como liberal de direita e tive a sorte de começar a escrever nessa altura em blogs que se tornariam muito conhecidos, como por exemplo o polémico Albergue Espanhol - que tem uma história a contar sobre a forma como impulsionou o aparecimento e a vitória de Pedro Passos Coelho.
Foi também com esta idade que lancei o meu primeiro projecto empresarial, sem nunca ter pedido um cêntimo emprestado à família. Uma autêntica catástrofe financeira que me fez ficar largos anos a pagar dívidas ao Estado. Era um jornal on-line e com distribuição gratuita em papel, chamado de "Portal Lisboa" que começou tão rapidamente como acabou. Depois disso, na mesma empresa, ainda criei uma pequena agência de comunicação especializada em política - onde trabalhei inúmeras campanhas, muitas destes partidos deixaram-me pendurado e deles nunca vi um tostão. 
Aos 22 anos tudo tornou-se insustentável e tive que voltar para o Norte, desta feita para Vale de Cambra, para casa dos meus pais. Foi um choque incrível com a realidade. Trabalhei numa pequena agência onde fazia redes sociais e um bocadinho de tudo. Adorei estar com os meus pais, mas não sentia que fizesse parte daquela cidade e principalmente daquela forma de olhar a vida e o mundo. Felizmente durou pouco tempo e menos de dois anos depois estava de volta a Lisboa, onde arranjei trabalho como Socialmedia Manager na BAR.
A BAR foi das melhores coisas que me aconteceu na vida profissional. Aprendi imenso com o Diogo Anahory e com o José Bomtempo, que tiveram a coragem de apostar num miúdo que fazia redes sociais e torná-lo num copywriter que haveria por - modéstia à parte - em pouco tempo atingir bastante sucesso. O resto é o que se sabe, tive a sorte de trabalhar em dupla com o João Amaral e num curto espaço de tempo limpámos todos os prémios de jovens criativos e de agências que havia para limpar em Portugal. De tal forma, que aos 27 anos me haveria de tornar Director Criativo da Nylon e menos de uma ano depois fazer de uma agência até aí desconhecida a Agência do Ano nos Prémios de Comunicação da Meios & Publicidade. Pouco tempo depois demiti-me da Nylon e nesse mesmo dia tinha 4 ou 5 propostas em cima da mesa, acabei como sócio e Chief Creative Officer da 004, um estúdio de design que ajudei a transformar em agência de publicidade e a trabalhar projectos incríveis como como a campanha da marca Windows, da Microsoft, para 11 países da Europa. Foi uma época muito interessante, onde corri vários dos mais importantes prémios do mundo na qualidade de jurado. 
Há um ano e meio, sensivelmente, acordei sair da 004 - os restantes sócios tinham uma visão diferente do que deve ser a ambição de uma agência e antes que as coisas deixassem de funcionar, fizemos o mais acertado que foi planear uma separação pacífica. Foi depois de todo este percurso que decidi duas coisas: criar a Buzziness e dedicar mais atenção ao Lisbon Awards Group - que detenho com a minha mulher. No primeiro caso o desafio passava por criar um modelo diferente de agência de publicidade e no segundo caso o nosso objectivo era criar um startup que não fosse só líder nos prémios e conferências de publicidade, mas também em todas as conferências e prémios dos mais importantes sectores da economia portuguesa. 
 
Da sua experiência na área, quais são, na sua opinião, as maiores alterações? E quais os maiores desafios? 
A área da publicidade mudou de uma forma avassaladora nos últimos 5 anos. O pior é que há 7, 6 e 5 anos eu já fazia parte do grupo de pessoas que diziam que nada ia ficar na mesma. Nessa época, o Digital representava apenas 4% do budget das marcas. Hoje, em média, já representa 50% - em pouco tempo será praticamente 100%. 
A verdade é que há 5 ou 6 anos Portugal teve uma oportunidade incrível de se adaptar e de enfrentar os desafios do Digital de forma a colocar-se na primeira divisão do sector a nível mundial. Em vez disso, a maioria dos profissionais da publicidade preferiram inventar estórias de que "o digital é uma moda", "o Facebook só vai durar mais dois anos", "é preciso é premiar boas imprensas", "a tv é e sempre será o mais importante" e por aí em diante. 
Não gosto de apontar culpados, mas a falta de renovação na liderança das agências, principalmente nos pelouros criativos, atrasou-nos décadas em relação aos outros países. Quando falo de renovação não falo de idades no cartão de cidadão, mas sim de mentalidades. Os resultados estão aí à vista: tornamo-nos praticamente irrelevantes nos principais prémios de publicidade mundiais; tirando raras e muito louváveis excepções, como a FCB Lisboa e mais algumas, o mercado parece amorfo, com pouco ou nenhuma iniciativa. O que se vê é quase sempre mais do mesmo, a campanha do mupi, tv e rádio, sem ideia e sem rasgo. É triste, mas o balanço não é muito positivo.
 
O que mais o entusiasma?
Durante muitos anos, a única coisa que me entusiasmava era mesmo a publicidade. Trabalhava muitas horas por dia, saía tarde e muitas vezes ainda ia dar aulas, escrever sobre publicidade, ler sobre publicidade, ver publicidade e fazer entrevistas sobre publicidade. Corria o mundo de festival em festival e desdobrava-me em Portugal para ir falar a todas as conferências e mais algumas para que me convidavam. Hoje as coisas estão um bocadinho diferentes. A publicidade continua a ser a menina dos meus olhos, mas já há mais coisas que me entusiasmam: o Lisbon Awards Group, as campanhas políticas, as minhas crónicas nos jornais e acima de tudo a incrível oportunidade de poder desfrutar de algum tempo como o meu filho e a minha mulher.
 
Quais foram as suas maiores aprendizagens até agora?
Esta não é uma pergunta nada fácil. Aprendi que somos capazes de conseguir praticamente tudo o queremos, desde que trabalhemos o dobro de todos os outros que concorrem por essa mesma coisa. Aprendi que a publicidade é um dos meios com pessoas mais interessantes em todo o mundo. Aprendi que infelizmente Portugal é um país muito pequeno e onde uma pequena elite ainda tenta dominar oligarquicamente todos os negócios do país. Aprendi que o mais importante é nunca desistir e que o segredo para o sucesso, como dizia o Churchill, é ir de derrota em derrota sem nunca perder o entusiasmo.
 
Está envolvido em vários projetos de relevo a nível nacional e internacional, trazendo a Portugal nomes de renome. Conte-nos mais sobre os vários prémios que co-organiza. 
A grande responsável por esses projectos é na verdade a Ana Firmo Ferreira, a minha mulher. Hoje estou mais envolvido com o Lisbon Awards Group e ocupo-me essencialmente em criar novos projectos que saem fora da área da publicidade, e que vão do Direito, à Saúde, passando pelos negócios, pelo Padel, pelos recursos humanos e muito mais. 
Penso que não estou a mentir se disser que o Lisbon Awards Group é já um dos maiores players do mundo na área dos festivais de publicidade e talvez o mais importante player nacional na organização de eventos corporativos próprios. Como dizia, estamos no direito com o Lisbon Law Summit e o Porto Law Summit, nos negócios com o Lisbon Business Summit, na saúde com o Lisbon Health Summit, no marketing com o Lisbon Marketing Summit e por aí em diante. A ideia é continuarmos a crescer todos os dias, não só em número de iniciativas, mas principalmente na relevância das mesmas.
 
Como surgiu a Buzziness? 
Quando saí da 004 ainda negociei a ida para grandes agências e consultoras, mas sou um tipo um bocadinho acelerado e com uma visão muito própria daquilo que acho que vai ser a publicidade no futuro. Odeio estar parado e gosto de fazer as coisas à minha maneira. Por isso criei a Buzziness, uma consultora de criatividade que actua na publicidade, nas relações públicas, na comunicação política, nos eventos e principalmente no digital. Temos optado por comunicar pouco, mas dentro em breve anunciaremos um passo de gigante. Até agora, temos crescido em negócio, clientes e em recursos humanos. Mais algum tempo e começaremos a fazer barulho.
 
Fale-nos mais sobre o seu livro “Devolvam-nos o Caviar”. 
Como já disse anteriormente, a política e os jornais sempre me fascinaram. É por isso que alimento uma coluna de opinião semanal no i. Sou um liberal de direita, monárquico e muitas vezes controverso. Gosto de ter opinião política e gosto da expressar, o livro nasceu do convite do meu editor, o meu amigo de longa data Gonçalo Martins, que me desafiou a compilar as melhores crónicas dos últimos anos. O prefácio é do Pedro Boucherie Mendes e o livro acaba por retratar um Portugal dominado por uma esquerda identitária, que prega aos sete ventos a sua moralidade e que depois vive em completa contradição com aquilo que sempre defendeu.
 
Como vê o futuro da publicidade e dos prémios em Portugal?
Sabe quando passamos todos os dias à frente de um restaurante que sabemos que já foi bom mas que agora está vazio e já não é grande coisa? No íntimo pensamos: caramba, como é que isto ainda está aberto. Depois há um dia em que de repente fecha e reabre com novos donos, um bom conceito, uma imagem moderna e comida melhor - magicamente fica cheio. É essa a minha esperança para a publicidade em Portugal e na verdade as coisas parecem começar a mexer. Houve movimentações importantes como o aparecimento de novas agências de bons criativos seniores como o Marcelo Lourenço, o Pedro Bexiga, o Jorge Coelho, o João Ribeiro e o Miguel Durão, houve o regresso a Portugal de bons profissionais como o João Espírito Santo e o André Sousa Moreira, houve agências digitais que têm vindo a surpreender como a comOn e a Loba, entre outras, e houve agências mais clássicas que se reinventaram como a FCB Lisboa e a agora Lola Normajean. Nem tudo é mau e há sinais de que as coisas podem começar a mudar para melhor. Espero bem que sim.
 
Qual o conselho que deixaria para os nossos leitores que pretendam enveredar nestas áreas?  
O vosso sucesso está dependente de apenas duas coisas: a vossa capacidade de trabalho e a vossa cultura geral. A má notícia é que sem estas qualidades nunca vão a lado nenhum. A boa notícia é que ambas são passíveis de serem trabalhadas. Mantenham o vosso foco e o sucesso aparecerá naturalmente.