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Influenciadores

Dicas, partilha de experiências e best practices sobre blogging e influenciadores digitais

14.Jan.18

Entrevista Helena Magalhães do blog Helena Magalhães: Do blog para o livro

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A sua experiência com blogs não é recente e a escrita faz parte de si. Helena Magalhães é autora do blog homónimo e do livro Diz-lhe que não. Para além disso, ainda colabora com o Observador e o Brasil Post e foi uma das organizadoras do Blogging for a cause. No seu blog é possível encontrar de tudo um pouco, desde os seus projetos, conselhos amorosos e um dos universos que mais a fascina: os livros. 

Nesta entrevista Helena partilha um pouco do seu percurso pessoal, assim como do percurso do blog, do surgimento do seu primeiro livro e de alguns projetos em que participou.  

 

Quando, como e porquê surgiu o seu blog?

Sempre tive blogues desde os seus primórdios, maioritariamente de escrita, mas nunca os levei muito a sério, eram diários por assim dizer e sempre anónimos. Até me ter despedido da redação onde trabalhava em 2014 e ter decidido – enquanto não sabia o que queria fazer ou se queria continuar a trabalhar como jornalista – criar um blogue que fosse mais sério e que servisse quase como portfólio do que faço (ou sonhava fazer – escrever). Desde esse momento percebi que não poderia se anónimo como até então e que teria de tirar partido da vaga de sucesso dos blogues de moda para explorar mais a minha imagem. Senti que tinha de me dar a conhecer, tinha de ir por um registo mais de lifestyle para, então, poder apostar na escrita. Claro que num momento ou outro mostrei coisas de beleza e de moda mas acabei por encontrar o meu rumo e o The Styland – que entretanto assumiu o meu nome e deixou de se chamar assim – passou a ser essencialmente um blogue de histórias.

 

O seu blog fala de tudo um pouco, em que categoria o insere? Como gosta de ser reconhecida?

Quase nunca digo que tenho um blogue e costumo rir-me quando me perguntam. Digo que tenho um site onde me podem ler, além do livro. Mas claro que é um blogue. Acho que se insere numa categoria de lifestyle – porque falo da vida de maneira geral – mas não é de moda nem de beleza. É um blogue de girl power. Posso dizer isso?

 

Como se posiciona no mundo dos blogs? O que a diferencia das outras bloggers?

Acho que Portugal (e o mundo em geral) está saturado de blogues de moda. Toda a gente quer ter um blogue de moda e de beleza e receber roupa e maquilhagem e ser “instafamous” e ganhar dinheiro mas pouca gente tem ideias originais ou procura fazer diferente, pensar fora da caixa ou ter uma estratégia. E honestamente – não quero ser mal interpretada – acho que é exactamente aí que me diferencio das outras bloggers. Uma das coisas que me faz fechar um blogue e não ler mais nada é quando vejo marcas, marcas, marcas por todo o lado. Tudo são reviews, tudo são posts patrocinados, tudo são novidades, tudo são produtos, tudo são sugestões de compras, tudo são looks... Mas pouca gente tem realmente algo para dizer. Os blogues tornaram-se catálogos e perderam a sua essência que era comunicar e aproximar as pessoas. Uma das coisas que costumo dizer é que antes das marcas é preciso conquistar os leitores. E esse foi sempre o meu foco desde o início. Eu queria falar de relações, da vida, de amor, de livros, queria contar histórias, queria, de alguma forma, sentir que poderia estar a mudar a vida de quem me lesse (nem que fosse por alegrar o seu dia com uma crónica sobre homens). Claro que pelo meio também andei a chapinhar na água e fiz muitas coisas com as quais não me identificava – posts de moda, roupa ou beleza – mas acho que é normal. Acho que temos de ir fazendo até encontrarmos o nosso rumo e o nosso público.

 

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O blog mudou recentemente de "The Styland" para "Helena Magalhães". O que originou essa mudança?

Já queria ter mudado o nome antes do meu primeiro livro ser lançado mas na altura não se proporcionou. Nessa altura em particular senti que o nome do blogue não me reflectia e sempre que me perguntavam onde me podiam ler, quase que tinha vergonha de o dizer. Quando o criei, queria que fosse um nome geral – styland pareceu-me bastante geral – mas acabou por ficar muito associado a “style” que não era de todo o meu objectivo. Quando comecei a perceber que as pessoas cada vez mais me reconheciam pelo meu nome e cada vez menos pelo nome do blogue, fiz todas as mudanças. Acho que foi a melhor opção.

 

Sente que a sua formação de base contribui para o caminho que seguiu com a criação do blog? De que forma?

Sem dúvida. Eu formei-me em política social porque queria mudar o mundo e depois em criminologia porque estava a trabalhar com mulheres em violência doméstica. E o mais engraçado é que toda a gente sempre achou que eu iria tirar jornalismo – e ainda pensei em candidatar-me mas à última hora mudei de ideias. Na altura não pensei que também poderia mudar o mundo com a minha voz mas a vida acabou por me levar para aí e foi quando mudei para o jornalismo e para a escrita. Acho que quem lê o blogue consegue perceber as minhas bases, o porquê de falar tanto de feminismo, de empowerment, de empreendedorismo, de força, de poder, de vida e de ser um blogue totalmente focado em dar armas às mulheres – mas de uma forma que não é chata (espero eheh).

 

A rúbrica "Amor é outra coisa" é um sucesso. Foi esta que deu origem ao livro “Diz-lhe que não”? Como surgiu a passagem do blog para o livro?

A ideia inicial até era criar um livro de crónicas – ou reunir algumas do blogue com outras novas – mas sempre senti que o caminho não seria esse porque crónicas não criam envolvência e não vendem. Funcionam em digital mas não senti que funcionassem em papel. O livro teria de ter uma história de pano de fundo e teria de criar “tesão” por assim dizer no leitor, fazê-lo identificar-se com as histórias e querer chegar ao fim para ler o seu desfecho. As crónicas começaram a ter sucesso talvez porque eram escritas num tom sarcástico e porque eu contava experiências pessoais (e de amigas) com que as mulheres se identificavam e, ao mesmo tempo, se divertiam a ler. Se me tivessem dito, quando criei o blogue, que daí iria finalmente dar vida ao meu primeiro livro, eu nunca teria acreditado. Porque sempre achei que a minha oportunidade de começar a escrever seria totalmente fora da minha “personalidade” blogger. Mas a vida dá muitas voltas... E o digital mudou a minha vida.

 

O que lhe trouxe de novo o livro?

Acho que, acima de tudo, me fez chegar a milhares de pessoas que não me conheciam do blogue e que, com isso, começaram a conhecer, a ler, a seguir e se tornaram leitores fiéis. E acho que isso é muito difícil no digital onde as redes sociais (como youtube e instagram) dominam por serem mais rápidas. Numa altura em que a escrita em digital esteve quase à beira da morte (ouvi dezenas de vezes que ninguém tinha pachorra para ler e as pessoas queriam era ver fotografias), sinto que encontrei o público certo e consegui fazer com que as pessoas tivessem novamente vontade de ler blogues com textos longos. E trouxe-me mais credibilidade, que era o que queria. Abriu-me portas para, no futuro, me poder dedicar a 100% à escrita que é o que sempre sonhei fazer da vida.

 

Explique-nos o "Projeto 26 mil horas"

Toda a gente já trabalhou em empresas de “merda”, por assim dizer. E as 26 mil horas é, basicamente, uma crónica laboral. É para entreter no meio de muitas mensagens subliminares. Estão sempre a perguntar-me se é mesmo ficção. E eu digo que podemos contar histórias através da ficção.

 

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O seu trabalho no Observador e no Brasil Post é um complemento do blog, ou funciona ao contrário? Quanto tempo da sua semana dedica ao blog?

Eu adoro escrever, como já perceberam. E uma das razões porque me recuso a falar de beleza no blogue é porque esse já é o meu trabalho no Observador onde escrevo no segmento de beleza e bem estar. E o blogue é para mim um escape, o meu espaço pessoal onde posso escrever sem reservas e sem filtros. Onde sou eu. O Brasil Post replica algumas das crónicas d’O Amor é Outra Coisa e tem outras originais mas é sempre focado em relações. Acho que nada se complementa e são apenas várias facetas do meu trabalho. Eu vejo o blogue como um trabalho porque acaba por ser o meu trabalho, onde me podem ler, onde me dou a conhecer. E, como todos os trabalhos, isso implica muita dedicação. É preciso gostar do que se faz porque eu passo muitas horas por dia ao computador. Não escrevo no blogue todos os dias porque não tenho tempo (entre o segundo livro e o Observador) e porque não quero cansar os leitores. Às vezes é preferível ter poucos conteúdos semanais mas, sempre que sai um, ser relevante, ser pensado e bem trabalhado, do que estar a despejar coisas que não têm interesse nenhum só para encher.

 

Como vê uma parceria de uma marca num blog como o "Helena Magalhães"? Que tipo e marcas e parcerias fazem sentido para si, para o seu blog?

Eu rejeito, provavelmente, 90% das parcerias que chegam até mim. Porque jamais me vou tornar um catálogo (ou como costumo dizer na brincadeira, uma blogger-papa-marcas). E porque a maioria não faz sentido, afasta os leitores e dá cabo da imagem de uma pessoa. Uma das coisas que mais digo e repito é que quem quer vingar neste meio tem de saber dizer não e ter uma estratégia bem definida. E pensar bem nas coisas a que se associa. Para mim, só me faz sentido ter parcerias com marcas com quem possa contar uma história que traga algo de relevante a mim e ao leitor. E procuro sempre manter uma imagem coerente com a própria narrativa que vou contando a quem me segue. Não faz sentido hoje associar-me à marca X e passados três meses associar-me ao concorrente só porque pagaram mais. Ou fazer uma parceria com uma marca de grande consumo e no mês seguinte com uma marca de luxo, alegando sempre que é tudo bom, tudo fantástico e adoro tudo. Acabamos por nos tornar papa-marcas e perder a coerência na história que contamos a quem nos segue. Estar a falar do creme X, dos sapatos Y e do sumo Z só porque sim (ou porque mandaram o produto ou até porque pagaram) é a estratégia mais errada que alguém pode ter. E ainda mais se outras quarenta bloggers estiverem a falar do mesmo. No final do dia, para quem estamos a comunicar? Para o público ou para outras bloggers e marcas?

 

Porquê o “Blogging for a Cause”? O que significa para si, como blogger?

O Blogging For a Cause nasceu da ideia de se tentar fazer, no espírito do natal, algo solidário com alguma mensagem positiva. Toda a gente faz mercados ou vende coisas e faz passatempos mas nós queríamos fazer algo que pudesse realmente ter algum impacto na vida de quem participasse e, ainda assim, ser solidário. Tal como todas as ideias, começámos com algo megalómano, de chegar a centenas de pessoas, fazer um evento num espaço enorme e acabámos por ser realistas e chegar à conclusão de que não valia pena querer angariar milhares e não ter meios para fazer nada. Para mim significou mostrar que ser blogger é muito mais que falar de roupa e de maquilhagem, que fazer vídeos e tirar fotografias. Ser blogger significa que temos uma mensagem, que temos até alguma responsabilidade porque somos um canal aberto a qualquer pessoa. E temos que usar a nossa voz para mais. Sinto que é da nossa obrigação – enquanto seres humanos – usarmos a nossa voz. E quando somos (quase) figuras (mais ou menos) publicas, essa voz pode ser usada para coisas incríveis.  Acabámos por criar um evento solidário no limite das 50 pessoas cujo valor do bilhete seria revertido a 100% para 5 causas solidárias. Os participantes no evento teriam uma tarde com 4 workshops que acreditávamos que teriam um impacto nas suas vidas. Convidámos 4 mulheres que trabalham em áreas da vida diferente (yoga, alimentação saudável, mudar de vida e empreendedorismo) e juntámos mais de 3 mil euros que foram totalmente entregues a 5 associações. E isto é o poder do digital: juntar as pessoas, criar movimentos, fazer algo que pode mesmo fazer uma diferença (mesmo que pequena) no mundo. O importante é mesmo fazer alguma coisa.